sábado, 3 de março de 2012

"Confronto" Memória de uma Cooperativa Cultural - Mário Brochado Coelho


Excertos do Prefácio
Joana Lopes
A década de 60 do século passado e os anos que se seguiram até ao 25 de Abril foram vividos com uma intensidade extrema, com grandes entusiasmos e dolorosas rupturas, corresponderam ao canto do cisne da ditadura sem que então o pudéssemos adivinhar, embora vivêssemos em permanente estado de alerta na esperança constantemente alimentada de que o fim do pesadelo não demoraria a acontecer. Vivemos esses tempos dia a dia, etapa a etapa, em pequenas lutas seguidas de outras por vezes ainda menores, mas tendo a certeza de que um dia acordaríamos num país livre onde poderíamos finalmente ter uma vida normal. (…)
Chego assim à Confronto e a este livro que é um resultado notável de um esforço que se adivinha ter sido hercúleo: a recolha sistemática de documentos e de testemunhos, que permitiu a reconstituição, detalhadíssima, da vida de uma instituição fulcral durante os seus seis anos da sua existência. (…)
Quando Mário Brochado Coelho me pediu para escrever este Prefácio, estranhei mas aceitei imediatamente, sem a mínima hesitação. À primeira leitura, entendi a razão do convite porque a fascinante história desta cooperativa, e de todo o contexto em que se inseriu durante os anos em que funcionou, revela a realidade, a Norte, de muito que se passou também em Lisboa e em que, pessoalmente, estive muito envolvida – com alguns desfasamentos no tempo, inevitáveis diferenças e uns tantos condicionalismos específicos. E dessa leitura resultou uma descoberta, impressionante e simultaneamente terrível: o desconhecimento que tinha de muito do que li, nomeadamente da tal teia de instituições com que a Confronto se articulou no Porto, muito diferente do paralelo que existia então em Lisboa. (…) E isto por algo que os mais novos realizarão muito dificilmente, por mais que tentemos explicar: o que era viver sem os meios de comunicação de que dispomos hoje, numa situação agravada pela existência da censura, num desconhecimento inevitável que tínhamos do que acontecia mesmo no Porto (sem que sequer valha a pena referir a ignorância praticamente total sobre o que se passava no resto do país…). Joana Lopes

Biografia de Mário Brochado Coelho
Nasceu a 2 Julho de 1939 em Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia.
Estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra entre 1956 e 1962. Expulso por motivos políticos da Universidade de Coimbra pelo prazo de 30 meses, concluiu a licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Advogado de presos políticos nos Plenários Criminais do Porto e Lisboa, foi advogado do Sindicato dos Bancários do Norte, com intervenção na criação da Intersindical.
Advogado da acusação particular no caso do assassinato pelo MDLP do Padre Maximino de Sousa e da estudante Maria de Lurdes Correia – 1977/1999.
Membro coordenador do Tribunal Cívico Humberto Delgado – 1977/78.
Consultor jurídico, desde 1974, de inúmeras associações de moradores do Grande Porto. Consultor jurídico dos Serviços Municipalizados de Águas e saneamento, de 1982 a 2002. Provedor do cliente dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento do Porto, entre 2002 a 2006.
Foi eleito duas vezes como deputado municipal no Porto, em 1977 e 1981.
Agraciado em 2006 pelo Presidente da República com a Ordem da Liberdade.
Principais publicações (para além de colaborações na imprensa e em revistas):
-“Em defesa de Joaquim Pinto de Andrade”, Afrontamento, Porto, 1971
- “Uma farsa eleitoral – o caso do Sindicato Metalúrgico de Aveiro”, Afrontamento, Porto, 1973
- “Lágrimas de guerra”, Afrontamento, Porto, 1987 (diário)
- “Cinco passos ao sol”, Afrontamento, Porto, 1991 (poesia)- “A liberdade sindical e o quadro estatutário das associações sindicais”, CEJ/IGT, Coimbra Editora, 2004

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