«...
não é nada. é só uma súbita
isquémia a apagar a
memória das coisas não
importantes. porque a vida
também é encenação e as boas
intenções não são
exclusivas do inferno.
quando a cegueira for vidência e
a verdade uma
missão talvez emerja o contorno
da virtude que não é
representável. entretanto e
entre uns e outros salva-se
o silêncio dos inocentes. mais
tarde corrigem-se os
ângulos do erro. mesmo que seja
tarde.
não é nada. é só um pensamento
líquido na margem
do esquecimento. como se a morte
já tivesse começado
a expropriar-nos.
...» Maria José Quintela
«...
acredito no amor sem adjectivos
e na flor que não
promete a eternidade. no rasto
dos anjos e dos
pássaros do sul. nos eclipses e
nas searas de trigo.
acredito em ti e não acredito no
tempo. nem nas poses
ostensivas dos falsos profetas
que nos ignoram para
nos diminuir. adivinho-lhes o
trejeito calculado no
conforto do disfarce.
e no entanto tudo é tão pouco e
tão breve. e nem a pele
é resgate.
falta-me o entendimento dos
videntes. que a mais
tenho a evidência do chão.
...» Maria José Quintela
«...
dentro do texto não se desfazem
os nós nem se
sangram os segredos.
escava-se até à raiz e prova-se
o sabor da terra.
antes do texto é preciso morrer
por dentro.
...» Maria José Quintela
Maria José Quintela |
O Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lamego foi, a 8 de fevereiro último, o palco
escolhido para a apresentação pública do livro Pertence à água a escolha dos
náufragos, da autoria de Maria José Quintela e edição da Chiado Editora.
Natural de Vila Real, onde nasceu em 1955, Maria José Quintela
reside em Lamego, desde 1959. Licenciada em Enfermagem pela Escola de
Enfermagem de S. João no Porto, exerce atualmente funções na unidade hospitalar
de Lamego, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, com a categoria
profissional de Enfermeira Supervisora.
Em 2000, publicou o livro de poesia Vozes e Ecos (edição de autor),
em 2006 o romance Um Olhar Não Basta (Publicações Penaperfeita) e em 2007 O
mundo é irreal mas não me importa (Garça Editores).
Para além de trabalhos dispersos em publicações periódicas,
participou também em diversas antologias: Quando o Além me Chamar, Vozes do
Douro, Palavras que o Douro Tece e Entre o Sono e o Sonho.